Eu venho de lá, onde
miséria é maior que a tristeza e o sofrimento corroí como um mal devastador,
sem cura e sem jeito. Os sobreviventes que moram no sertão sofrem
sem água, sem comida, sem emprego e terminam por perder o pouco que lhes restam: suas criações. Eu venho de lá.
De onde o clima é ensolarado o ano todo e um dia de
chuva é um dia de bênção. Eu venho de um lugar que tem cheiro de barro e
os passarinhos, em todas as estações, não encontram água para beber. Eu venho de um lugar onde a dor e
o sofrimento se unem para medir forças e sobreviver. Lá eles dividem o pão e
multiplicam o amor. Lá, quem parte fica
para sempre, porque só deixou boas
lembranças e os mais velhos são de confiança e têm sabedoria adquirida com tempo.
Eu venho de um
lugar que tem luz, mesmo em noite escura. Sobrevivo de encantamento, me alimento de esperança para fazer o bem e sobreviver. Lá não tem boniteza,
nem riqueza, nem bem-querer. Só sobrevive quem tem clareza e não sabe o que
é riqueza. Não esqueço de onde venho e
vou sempre querer voltar. Meu lugar se
sustenta do bem que encontro pelo
caminho, junto a maços de alfazema e alecrim. Sou como passarinho carregando a
bagagem de bondade, catando gravetos de
cheiro, para esquentar e sustentar o meu
ninho. Talvez a vida tenha feito você
acreditar que esse lugar não exista.
Digo que sim, é fácil encontrá-lo. Silencie, respire, desarme-se e perceba que está pertinho daqui. Esse lugar que
pulsa amor é dentro da gente, é essência, está em cada um de
nós. Basta você ir visitar o sertão nordestino e conhecer as terras áridas para sentir as lágrimas correrem pelo seu rosto de dor, dos moradores que nascem na
miséria e morrem amargurados de tanto
sofrer, vendo suas criações morrendo de sede e fome. Eu andei por lá. Concluo dizendo que a vida não é viver como queremos e
sim administrar os nossos sonhos e projetos para tudo da certo. Desapega no que
não está dando certo. Se assim o fizer, sairá da miséria.
Autor (M. P. S.)
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