quinta-feira, 11 de julho de 2013

Vidas paralelas





As vidas paralelas estão, no meu ponto de vista, entre quem nasce no interior e na cidade grande. Lembro-me da minha infância, de quando era pequeno e muitos garotos tinham criatividade para fazer seus próprios brinquedos. Um deles era uma mini-bicicleta que nós chamávamos  de  patinete.  Nós descíamos nos caminhos apertados e bem altos para dar velocidade e, quando a roda dianteira pegava no buraco, capotávamos, o que era um risco à saúde. Também fazíamos os nossos carros de madeira que suportavam até três pessoas dentro. Além dos cavalos de madeira.
Costumávamos a sair  em grupo para o campo, em busca de jaca, laranja, manga, melancia e todo tipo de frutas que a natureza nos oferecia.
Era uma vida saudável e boa demais. Entretanto, a gente não a reconhecíamos como tal,  por motivo de ter sido tão farta.
Tinha, também, as aventuras que fazíamos descendo rios abaixo, em um percurso de mais de  três km. O rio tinha uma forte correnteza e os mais  preparados nos gritavam: “está vindo um jacaré  para nos  pegar!” E muitos pensavam que era verdade e se afoitavam na correnteza para chegar  mais rápido.
Quando  chegava a colheita  do feijão,  na qual se batia as vagens para tirar os caroços, a gente brincava de esconder-se dentro das cascas do feijão que era batido. Era uma pintura  com criatividade  que até Deus duvidaria. Nós ficávamos  escondidos e atirávamos pedras via estilingue  nos potes que as mulheres carregavam cheios d’água, para quebrá-los nas cabeças delas. Também  amarrávamos os talos de capim nos caminhos que elas percorriam, para que elas e as outras pessoas que  passassem, caíssem.
Todos os brinquedos que nós tínhamos eram feitos por nós mesmos. E todos sentiam-se felizes. Era uma época boa e sadia que fazia com que  desenvolvêssemos a mente enquanto que nos divertíamos. Todos nós sentíamos a liberdade como um pássaro na floresta.
Já na zona urbana é totalmente diferente.  As crianças nascem e vão crescendo presos dentro de um apartamento repletos de grades, como se fosse uma cadeia, se tornando um prisioneiro desde a infância. Não importa se ele é pobre ou rico: ambos se enjaulam por motivos de segurança. Se os pais forem bons, levam-nos  nos fins de semana para darem  um passeio no parque, praia etc. Do contrário, se acostumam a viverem isolados, expostos à vida sedentária e seus hábitos: computadores, vídeo games, TV a cabo etc. Eles crescem sem saber fazer um brinquedo para usar, pois só têm em mente coisas industrializadas. Os pesquisadores alertam aos  males  que estes tipos  de brinquedosaliados ao  isolamentofazem  à saúde da crianças, deixando-as  depressivas e obesas.
Deixo aqui uma pergunta: O quê fazer, se vivemos sem segurança e as indústrias, junto à mídia, fazem a cabeça  das crianças (e seus pais) para comprarem seus produtos?     

  (AUTOR  M P S )  

3 comentários:

  1. Está mensagem me fez também voltar ao passado, também fazia esses tipos de brincadeira, e éramos tão feliz. Hoje realmente vivemos engaiolados, e ainda com temos medo. Gosto de ler tudo que este autor escreve,viajo na imaginação. Parabéns e obrigada. INB.

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  2. Sua matéria me levou rapidamente à minha infância, que tbm foi em fazenda, onde tive uma infância tranquila, divertida, e mt saudável. Sem falar na fartura de diversos tipos de alimentos naturais, sem nenhum tipo de agrotóxicos. As brincadeiras eram saudável, divertida e criativas. Brincávamos mt de cantigas de roda, hoje nem nas escola se vê mais isso. Essa geração de hoje já nasce informatizada e evoluída. É o progresso. Cleusa

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  3. Recordar é reviver! As lembranças da infância fazem com que a fonte de energia inspiradora que está latente dentro de nós desperte sensações vividas e o desejo de vivermos novas aventuras. Estes combustíveis poderão ou não nos levar a um futuro com lembranças tão gostosas e que darão mais sentido para a nossa existência. Basta darmos o primeiro passo!

    Muito oportuna sua colocação sobre as Vidas Paralelas: entre quem nasce no interior e na cidade grande. Recentemente, viajei ao interior de Minas Gerais e pude sentir o “gosto da vida simples e tranquila”, lá tinha estilingues, balanços nas árvores, redes, cadeiras de balanço, objetos de barro feitos à mão, hortas, criações, forno à lenha, frutas nos pés, riachos, céu muito azul, espaço à perder de vista para andar, esconder... vou parar, só de lembrar sinto vontade de voltar para ficar.

    Para a sua pergunta sobre o que fazer com a “vida industrializada” imposta às crianças atualmente, que está atingindo até as crianças que nascem no interior, apesar de ser em menor escala, as oportunidades estão aí: as pessoas devem usar as lembranças das suas infâncias e experiências de vida, para montar estratégias de sobrevivência onde a meta seja dar a elas uma vida saudável, boa e feliz como a mencionada no texto.

    Como? Segundo os pedagogos, as crianças aprendem brincando e isto nos dará a base para repensarmos se os espaços físicos que estamos disponibilizando são adequados ao seu desenvolvimento. Muito tem sido feito, através do cumprimento das legislações específicas para o atendimento às necessidades básicas do desenvolvimento infantil, o que tem gerado ações e programas em diversos espaços, como por exemplo em creches, cada vez mais eficazes. Infelizmente, atingem apenas parte da demanda e o verdadeiro problema não é discutido pela sociedade.

    O que eu posso fazer para alterar este quadro? Existem inúmeras possibilidades, uma delas é o retorno programado e organizado do homem ao campo e à vida simples. Impossível? Considerando que, as zonas urbanas estão com a capacidade máxima de ocupação cada vez mais sendo atingidas e a necessidade de aproveitamento das grandes faixas de terras brasileiras, antes que os estrangeiros o façam, poderá ser parte da solução. Existem vários movimentos pensando nisto, enquanto isso que tal fazermos a nossa parte? Como? Podemos brincar com crianças e fazer “travessuras” também. Despertar a criança que existe em nós fará com que vivamos mais felizes.

    A troca de cenário de uma vida paralela na cidade para a do campo poderá ser a ponta do iceberg da solução. Pensem nisto!

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